sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

VOCÊ FINGE SER REAL... EU FINJO QUE ACREDITO...?


Porque é que mentimos? Normalmente, as pessoas mentem para esconderem aspectos que as envergonham, ou dos quais não se orgulham. Por trás de cada mentira costuma existir uma mágoa, um escândalo, uma ferida corrosiva…
Cada vez que mentimos estamos a afirmar a nós próprios aquilo que gostaríamos que tivesse acontecido, como se de um bálsamo se tratasse. Talvez seja por isso que as mentiras viciam, por serem uma espécie de ópio que nos leva acreditar não nos factos, mas na ficção proposta.
Há até quem afirme: “Vou fingir que acredito”, ou, “Engana-me que eu gosto”! Vivemos tempos tão confusos que por vezes até preferimos ser enganados a enfrentar a verdade!
Coloca-se a questão das “mentiras brancas”, (parece que estamos a falar de armas), daquelas que servem para “ajudar”, serão mesmo apaziguadoras? É que até essas inverdades, um dia podem vir à luz e por vezes é pior a emenda que o soneto!!!
Educamos os nossos filhos para não serem mentirosos, mas quando o telefone toca, pedimos aos meninos para dizerem que não estamos! Estamos a ensinar-lhes que a solução para os imprevistos do quotidiano reside na mentira e na covardia.
Mas o pior é a atitude mentirosa! Quando não mentimos mas omitimos um pequeno/ grande pormenor que faz toda a diferença! Realmente, o que dissemos foi verdade, mas foi apresentado de maneira a induzir a outra pessoa em erro, a levar o outro a acreditar no engano, no que não foi, no que não aconteceu!
A verdade é que a mentira sendo viciante, também é devastadora. Não só para os enganados, mas principalmente para o mentiroso. Creio que somos canais das nossas palavras, que por sua vez são a expressão daquilo que somos.
As palavras que dizemos são a verbalização do nosso carácter, do nosso ser…
Comparo esta situação a uma palhinha que uma vez sugada serve de condutor do sumo até ao receptor. O sumo chega lá, o receptor até pode ficar satisfeito, mas a palhinha fica suja de sumo. De igual modo, também nós nos manchamos com as palavras que dizemos, independentemente do efeito que estas possam produzir na vida dos outros.
A palhinha foi criada para funcionar como uma espécie de canal e de certo modo, nós também somos canais que expressam ao mundo tudo o que se passa no nosso ser, mas é por isso mesmo que tanto o bem, como o mal que transmitimos fica marcado em nós.
É por esta razão que existem pessoas idolatradas, consideradas perfeitas e no entanto, são tão infelizes! Estão manchadas de más intenções que embora não reveladas e nem denunciadas, estão escritas em cada célula do seu ser. Outras há que não são nada populares, até podem ser consideradas inconvenientes pela sua transparência, mas dormem em paz.
Há quem não acredite na verdade, aliás, uma vez li uma conversa entre um filósofo e o seu aluno, mais ou menos assim: “A verdade não existe, é mentira a verdade existir”, afirmou o filósofo. O aluno respondeu prontamente: “Então se é mentira a verdade existir e se isso for mesmo verdade, então a verdade existe! Nem que seja só essa, mas existe!”.
A verdade magoa quase sempre, incomoda, é desagradável, irritante, espelha-nos e denuncia-nos a cada instante, mas o pós-operatório também e a verdade é a única cirurgia libertadora, o único antídoto eficaz para este “ópio” desgastante.
As inverdades não passam de uma metadona a metro que nos vão distraindo do real e que só servem para adiar um pouco mais o confronto inadiável com as sequelas do passado, do presente e das que hão-de vir.

Bjs...

Santiago Rodriguez.

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